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Dia Internacional da Mulher reforça debate sobre ocupação de espaços dentro da sociedade

Confira nossa segunda matéria especial

Por Ane Catarine Lima
Ás

Dia Internacional da Mulher reforça debate sobre ocupação de espaços dentro da sociedade

Foto: Vladimir Vladimirov/Getty Images

É inegável que o século XX representou um grande avanço em relação aos direitos das mulheres. No entanto, a presença feminina em espaços de destaque no contexto profissional ainda é um desafio diário. A busca constante por ultrapassar obstáculos faz parte da rotina de milhares de brasileiras que, de maneira geral, encontram problemas estruturais que dificultam a busca por igualdade. 

Embora os debates sobre equidade de gênero e combate ao machismo tenham se popularizado, ainda é comum vivenciar relatos sobre desigualdades salariais, violência sexual, feminicídio, baixa representatividade política, entre outros. Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostram, por exemplo, que as mulheres representam a parcela da população mais afetada pelo desemprego e pelo acúmulo de tarefas durante a pandemia do coronavírus.

Isso porque, segundo o levantamento, as mulheres ocupam os principais setores afetados pela crise. Além disso, possuem uma taxa de informalidade relativamente superior à dos homens. De acordo com a Cepal, 11,4% das mulheres latino-americanas se dedicam ao trabalho doméstico remunerado, sendo que 77,5% dessas trabalhadoras são informais. Sem contar que a falta de aulas presenciais fez com que muitas mulheres se dividissem entre home office, filhos e demandas da casa.  

Perpassando a informalidade, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no ano passado, mostram que a participação das mulheres no mercado de trabalho tem aumentado, mas elas seguem ganhando menos que os homens e ocupando, cada vez menos, cargos gerenciais. Segundo o IBGE, em 2019, a taxa de participação feminina na força de trabalho era de 54,5%, enquanto a masculina era de 73,7%.

Na contramão das dificuldades, a quebra de preconceitos e o rompimento de estereótipos de gênero geram representatividade e, consequentemente, o público feminino inspira novas trajetórias. Em alusão ao Dia Internacional das Mulheres, celebrado nesta terça-feira, 8 de março, o Farol da Bahia conversou com mulheres trabalhadoras e guerreiras que fomentam a importância de ocupar lugares dentro da sociedade.

Empreendedora e produtora cultural, Camilla Oliveira, de 40 anos, reforçou o papel da mulher na área da comunicação social. Segundo ela, a figura feminina, apesar de muitas vezes ser impedida de ocupar cargos de liderança, possibilita um olhar mais “humano” nas relações. 

“A mulher tem um olhar mais compreensivo em diversos aspectos. Isso pode ser visto especialmente quando falamos em classes e gênero porque, na maioria das vezes,  não tem a mesma equiparação no mercado. Eu acho que as mulheres trazem consigo um grande repertório e conseguem enxergar melhor algumas minorias que humanizam a comunicação”, afirmou Camilla, que também é CEO da Toca Comunicação.

Ainda na entrevista, ela reforçou que os homens têm mais oportunidades no mercado. “Os números nos mostram isso. Lembro que no começo da pandemia os dados mostravam mais de 7 milhões de pessoas desempregadas e, infelizmente, o público eminente era composto por mulheres. Nessa época, nós fizemos uma campanha com o objetivo de incentivar mulheres empreendedoras, que muitas vezes não são encorajadas a abrir um negócio ou a pensar em algo que elas gostariam de fazer. Então, eu acho que não dá para fechar os olhos para essas questões de gênero”, afirmou.

"Embora eu me coloque em uma posição privilegiada por ser branca e ter tido uma base familiar que sempre me apoiou e me encorajou, não retiro o mérito da minha luta e de todas as coisas que consegui conquistar como mulher. Há 15 anos, quando comecei a empreender na área de comunicação, a maioria das mulheres à minha volta se ocupavam de tarefas não remuneradas, domésticas. As que trabalhavam, não tinham o protagonismo do sucesso dos negócios. Hoje, consigo enxergar muito mais mulheres na liderança e que me servem de inspiração. Mas ainda temos muito o que caminhar", completou Camilla Oliveira. 

Foto: Arquivo Pessoal/ Camilla Oliveira

Já a jornalista Hadassa Aragão, de 25 anos, disse ao Farol da Bahia que enxerga “um mercado ainda em construção para as mulheres negras''. Partindo do mesmo viés que Camilla, ela afirmou que as oportunidades no mercado são mais escassas para as mulheres e completou dizendo que o cenário é ainda pior para mulheres negras. 

“As oportunidades não são as mesmas. Eu hoje estou desempregada, já passei por algumas seleções onde vi outras pessoas serem priorizadas com pouca ou nenhuma diferença de currículo, que eu acredito ter acontecido principalmente pela aparência dos demais. Eu sou uma mulher negra e tenho black power. Parece que existem muitas de nós em posições de destaque agora, mas na real essa comparação é injusta. Às vezes uma agência de comunicação é composta majoritariamente por brancos e por uma ou duas pessoas negras que nem sempre estão em destaque”, afirmou Aragão.

Apesar da luta árdua, Hadassa disse que fica contente em ver novas empresas nascendo e abrindo espaço para mulheres. “Aos poucos vamos criando os nossos espaços, porque os que já existem  precisamos nos adequar para caber”, completou. 

Foto: Arquivo Pessoal/ Hadassa Aragão

 

Saindo um pouco da área de ciências humanas, a bióloga Natalie Amorim falou sobre a falta de reconhecimento de mulheres na profissão. “Eu trabalho na área de controle de pragas e posso afirmar que dificilmente vejo mulheres nesse espaço. Tem mulher, mas infelizmente essa área ainda é ‘considerada’ para homens. Temos mulheres muito boas, mas os homens têm mais notoriedade. De uma forma geral, a sociedade está acostumada a dar mais oportunidade para os homens. Ainda é difícil acreditar na palavra e na inteligência de uma mulher… Mesmo com a mesma formação, a mulher não tem o mesmo crédito”, afirmou Amorim.

Foto: Arquivo Pessoal/ Natalie Amorim

Três mulheres com histórias diferentes, mas unidas pelos questionamentos que envolvem o simples fato de ser mulher no Brasil. Ainda em entrevista, elas afirmaram que as mulheres precisam se encorajar e se desprender das amarras machistas e sexistas que as impedem de realizar sonhos. Neste dia da mulher, segundo Hadassa, é importante relembrar que a figura feminina precisa ser valorizada e respeitada cotidianamente. “Precisam acreditar na nossa capacidade. Nós somos o futuro”, concluiu a jornalista. 
 

Leia mais: Sexo frágil?: mulheres relatam desafios da rotina e ressaltam força em celebração ao 8 de março

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