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Especialistas alertam sobre o perigo da "Cultura do Cancelamento"

Caso de homem denunciado por gesto racista reascende debate

Por Da Redação
Ás

Especialistas alertam sobre o perigo da "Cultura do Cancelamento"

Foto: Reprodução/Internet

O alcance da cultura do cancelamento nos Estados Unidos e em outras partes do mundo vem provocando questionamentos sobre a possibilidade de que injustiças sejam cometidas. Recentemente, o caso de Emmanuel Cafferty, um americano que teve sua vida transformada ao ser acusado de fazer um gesto considerado racista por um usuário do Twitter voltou a movimentar o debate sobre os impactos que essas possíveis injustiças podem trazer.

O caso de Cafferty é emblemático por ter sido considerado um efeito colateral perigoso da cultura do cancelamento. O movimento começou como uma forma de chamar a atenção nas redes sociais para causas como justiça social e preservação ambiental, uma maneira de amplificar a voz de grupos oprimidos e forçar ações políticas de marcas ou figuras públicas. Mas no caso de Cafferty, o fez perder o emprego e ser rejeitado por todas as outras empresas em que já trabalhou. 

Como funciona o "Cancelamento"

Geralmente, um usuário de mídias sociais, como Twitter e Facebook, presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou foto e posta em sua conta, com o cuidado de marcar a empresa empregadora do denunciado e autoridades públicas ou outros influenciadores digitais que possam amplificar o alcance da mensagem.

Em questão de horas, o post tenha sido replicado milhares de vezes. A cascata de menções a uma empresa costuma precipitar atitudes sumárias para estancar o desgaste de imagem, sem que a pessoa sob ataque possa necessariamente se defender amplamente.

"Você pode ser cancelado por algo que você disse em meio a uma multidão de completos estranhos se um deles tiver feito um vídeo, ou por uma piada que soou mal nas mídias sociais ou por algo que você disse ou fez há muito tempo atrás e sobre o qual há algum registro na internet. E você não precisa ser proeminente, famoso ou político para ser publicamente envergonhado e permanentemente marcado: tudo o que você precisa fazer é ter um dia particularmente ruim e as consequências podem durar enquanto o Google existir", definiu Ross Douthat, colunista do The New York Times em um artigo sobre a cultura do cancelamento.

Um exemplo recente de cancelamento que ocorreu no Brasil foi o da blogueira Gabriela Pugliesi. Depois de postar imagens de uma festa que deu em sua casa, em abril, em meio a uma quarentena por conta da epidemia de coronavírus, uma multidão online passou a cobrar as marcas que a patrocinavam para que rescindissem os contratos de publicidade com ela. Pugliesi perdeu pelo menos cinco contratos e seu prejuízo teria superado os R$ 2 milhões.

O combate as injustiças

Diante do que qualificaram como "atmosfera sufocante", um grupo de 150 jornalistas, intelectuais, cientistas e artistas, considerados progressistas, resolveu publicar, na Harper's Magazine, há duas semanas, um texto intitulado "Uma carta sobre Justiça e Debate Aberto". Assinada por nomes como o linguista Noam Chomsky, os escritores J.K. Rowling e Andrew Solomon, a ativista feminista Gloria Steinem, a economista Deirdre McCloskey, e o cientista político Yascha Mounk.

A carta afirma que "a livre troca de informações e ideias, força vital de uma sociedade liberal, tem diariamente se tornado mais restrita. Enquanto esperávamos ver a censura partir da direita radical, ela está se espalhando também em nossa cultura: uma intolerância a visões opostas, um apelo à vergonha pública e ao ostracismo e a tendência de dissolver questões políticas complexas com uma certeza moral ofuscante".

A resposta à carta dentro do movimento progressista não tardou. Um grupo de jornalistas, artistas e intelectuais  que não se identificaram por medo de represarias, acusou os autores da primeira carta de ignorar as dificuldades de minorias, como negros e população LGBT, no debate público no mundo acadêmico, nas artes, no jornalismo, no mercado editorial, considerando o alto poder que possuem dentro do mercado editorial.

"Os signatários, muitos deles brancos, ricos e dotados de plataformas enormes, argumentam que têm medo de ser silenciados, que a chamada cultura do cancelamento está fora de controle e que eles temem por seus empregos e pelo livre intercâmbio de ideias, ao mesmo tempo em que se manifestam em uma das revistas de maior prestígio do país", afirmam os signatários do novo documento, intitulado "Uma carta mais específica sobre Justiça e debate aberto"

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