Inflação desacelera a 0,21% em junho e fica abaixo das projeções
O resultado de junho surpreendeu o mercado financeiro ao ficar abaixo da mediana das expectativas
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,21% em junho, apontam dados divulgados nesta quarta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A alta dos preços havia sido de 0,46% em maio.
O resultado de junho surpreendeu o mercado financeiro ao ficar abaixo da mediana das expectativas. Segundo pesquisa da agência Reuters, a projeção era de taxa de 0,32%.
Em 12 meses, o IPCA ganhou força, acumulando inflação de 4,23%, sinalizou o IBGE. No mesmo recorte, a alta era de 3,93% até maio.
"Essa aceleração no acumulado em 12 meses se dá basicamente pela substituição das taxas", ponderou André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA.
"A gente retira do acumulado a deflação [queda] de 0,08% observada em junho de 2023 e coloca a variação de 0,21% observada agora, em junho de 2024."
ALIMENTOS PERDEM FORÇA, MAS AINDA PRESSIONAM
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 7 tiveram alta de preços no mês passado. O segmento de alimentação e bebidas desacelerou de 0,62% em maio para 0,44% em junho.
Ainda assim, exerceu o maior impacto no IPCA: 0,10 ponto percentual. Em outras palavras, os alimentos seguem pressionando o índice, apesar da trégua.
O subgrupo alimentação no domicílio teve alta de 0,47% em junho. Isso representa uma desaceleração frente a maio (0,66%), quando parte dos preços havia sido afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
O estado, principal produtor de arroz do Brasil, amargou perdas em plantações com a tragédia climática. Na visão de economistas, é possível que os reflexos da catástrofe estejam se dissipando no IPCA.
As quedas da cenoura (-9,47%), da cebola (-7,49%) e das frutas (-2,62%) contribuíram para o alívio da inflação dos alimentos em junho.
No caso das frutas, o IBGE destacou a redução do mamão (-17,31%) e da banana-prata (-5,68%) em meio a fatores como o aumento da oferta.
Por outro lado, itens como a batata-inglesa (14,49%), o leite longa vida (7,43%) e o arroz (2,25%) mostraram altas no mês passado.
O IBGE disse que o clima adverso na região Sul e a entressafra contribuíram para diminuir a oferta de leite. A batata passa por período de transição de safras no campo.
PASSAGEM AÉREA EM QUEDA ALIVIA TRANSPORTES
O grupo dos transportes, por sua vez, registrou queda de 0,19% em junho, após subir 0,44% em maio. Assim, teve a principal contribuição para frear o IPCA, com impacto de -0,04 ponto percentual.
O resultado dos transportes teve influência da baixa nos preços da passagem aérea (-9,88%). O bilhete de avião exerceu o principal impacto individual do lado das quedas no índice (-0,06 ponto percentual).
André Almeida, do IBGE, indicou que, no caso da tarifa aérea, houve uma espécie de devolução da alta de 5,91% que havia sido verificada em maio.
"A gente teve, em maio, alguns feriados, como Corpus Christi. No mês de junho, os preços caíram mesmo. É reflexo da dinâmica de mercado", afirmou.
RESULTADO É BEM POSITIVO, DIZ ECONOMISTA
Para André Valério, economista sênior do banco Inter, o cenário do IPCA em junho pode ser considerado positivo. Ele destaca fatores como a trégua dos alimentos e diz que a difusão das altas de preços segue contida.
De acordo com Valério, a recente escalada do dólar ainda não mostrou grandes efeitos sobre a inflação. "É um resultado bem positivo, tanto do ponto de vista qualitativo quanto quantitativo", afirma.
"A surpresa [dos analistas] vem, em grande parte, pela estimativa maior que o mercado tinha para a inflação dos alimentos, que deu uma desacelerada. Teve também o efeito da passagem aérea, que é bastante volátil."
O Inter prevê IPCA de 4,3% para o acumulado deste ano, mas Valério diz que o resultado de junho traz um viés de baixa para a estimativa. Assim, a projeção deve ficar mais próxima de 4%.
EXPECTATIVAS E META DE INFLAÇÃO
Nas últimas semanas, as expectativas para o IPCA em 2024 subiram em meio a fatores como a alta do dólar e as enchentes no Rio Grande do Sul.
Na mediana, analistas do mercado financeiro projetam IPCA de 4,02% no acumulado de 2024, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (8) pelo BC (Banco Central). A estimativa aumentou pela nona semana consecutiva.
Um possível fator de pressão é o reajuste dos preços da gasolina e do gás de cozinha anunciado nesta semana pela Petrobras.
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3% neste ano. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.
Isso significa que a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado de 12 meses até dezembro. Por ora, a maioria dos analistas projeta inflação abaixo do teto.
COLETA DE PREÇOS E INFLAÇÃO NA GRANDE PORTO ALEGRE
Com as enchentes no Rio Grande do Sul, o IBGE intensificou a coleta remota de preços na região metropolitana de Porto Alegre.
Em maio, essa modalidade chegou a 65% dos trabalhos locais. Em períodos de normalidade, a porcentagem ficaria na faixa de 20%.
Segundo André Almeida, do IBGE, a coleta remota ainda foi intensa nas duas primeiras semanas de junho, mas perdeu força com a melhora do quadro climático.
A participação da modalidade ficou em torno de 30% no mês. Houve normalização nas últimas duas semanas da pesquisa, indicou Almeida.
O IPCA de Porto Alegre saiu de uma alta de 0,87% em maio para uma queda de 0,14% em junho. Foi a menor variação entre as 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas.
Na metrópole gaúcha, a alimentação no domicílio passou de um avanço de 3,64% em maio para uma redução de 0,88% em junho. Ou seja, a queda no mês passado devolveu somente uma parte da carestia anterior.