Isolados do Massaco: imagens inéditas mostram etnia da Amazônia nunca vista antes
Veja como políticas de proteção estão impulsionando a resiliência cultural e ecológica pela floresta tropical
Foto: Funai
Imagens inéditas mostram indígenas da etnia Massaco pela primeira vez. A comunidade vive em território isolado no estado de Rondônia – um dos que mais sofreu com o desmatamento da Amazônia Legal.
De acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), eles são especialistas em caça com longos arcos e em defender as terras de invasores com armadilhas de estacas escondidas de madeira, tão rígidas que podem penetrar o pneu de um trator.
Pela falta de contato com outros povos, ninguém sabe como estes indígenas se autonomeiam. A etnia recebeu o nome de Massaco por ser o nome do rio que perpassa o território, perto da fronteira do Brasil com a Bolívia.
A etnia Massaco é uma das 29 comunidades isoladas confirmadas no país. Outras 85 foram contadas, porém ainda não foram reconhecidas por causa das rigorosas exigências de coleta de evidências e aos entraves burocráticos necessários.
As estacas usadas por estes indígenas têm sido achadas com cada vez mais frequência e mais perto da base de onde o veterano da Funai, Altair Algayer, inspeciona a proteção dos 421 mil hectares do território, que equivale a quase meio milhão de "Maracanãs". Para ele, há uma mensagem clara: fiquem longe, não queremos invasores em nossas terras.
Algayer iniciou o trabalho no Massaco em 1992. Conhecido como Alemão (devido à sua ascendência), ele se transformou em uma lenda dentro da Funai por sua documentação sistemática sobre os Massaco e por sua persistente proteção das terras. O território transformou-se um modelo. A Funai e agências federais zeraram o desmatamento dentro de suas fronteiras em uma região local em que a perda de floresta é descontrolada.
Algayer revela que, no início dos anos 1990, ele avaliava a população entre 100 e 120 pessoas. Atualmente, ele estima 50 famílias, cada uma com quatro a cinco membros, chegando a um total entre 200 e 250 habitantes. Arcos pequenos, brinquedos e pegadas indicam crianças – indícios de que as famílias estão aumentando.
Arcos gigantes são um mistério
Os arcos e flechas achados nos acampamentos abandonados dos Massaco, e podem passar de três metros – entre os mais extensos já encontrados na Amazônia.
A antropóloga Amanda Villa, que estava com Algayer em expedições, salienta que os Massaco se diferenciam de povos vizinhos pelos arcos longos, tapiris altos, uso extensivo de estacas (estrepes), colocação de crânios de animais em estacas penduradas em troncos de árvores, cabelos compridos, bigodes e ausência de brincos ou colares.
Um indígena Tupari que conhece muitas das línguas indígenas da área escutou por acaso um casal Massaco conversando e contou não entender nenhuma palavra.
As novas imagens foram realizadas em uma área onde a Funai tem colocado ferramentas metálicas, facões e machados. Brindes, antes utilizados para atrair contato, agora auxiliam para evitá-lo, dissuadindo os isolados de aparecerem em fazendas ou madeireiras para catar ferramentas.