Lula volta a chamar Campos Neto de adversário e afirma que troca no BC trará 'normalidade'
Declaração ocorre em uma semana marcada por ataques de aliados do governo ao presidente do BC e à atual política de juros
Foto: Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar, nesta sexta-feira (21), a atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em entrevista à rádio Mirante News FM, em São Luís, o petista disse que o chefe da autoridade monetária é um adversário político e ideológico, e acrescentou que o BC deve voltar à "normalidade" após a troca no comando prevista para o fim do ano.
A declaração ocorre em uma semana marcada por ataques de aliados do governo ao presidente do BC e à atual política de juros.
"Nós estamos com um problema sério. O presidente do Banco Central é um adversário, político, ideológico, e adversário do modelo de governança que nós fazemos", disse Lula, após ser questionado sobre a desvalorização do dólar.
"Ele foi indicado pelo governo anterior e faz questão de demonstrar que não está preocupado com a nossa governança. Ele está preocupado com o que ele se comprometeu", continuou.
Durante a entrevista, o presidente também lembrou que está chegando o momento de trocar o chefe da autoridade monetária, o que, segundo ele, vai devolver "normalidade" ao Brasil.
Campos Neto foi alçado à presidência do BC no governo de Jair Bolsonaro (PL) e tem mandato até 31 de dezembro de 2024.
"Vamos ter que tirar ele e indicar outras pessoas. Acho que as coisas vão voltar à normalidade, porque o Brasil é um país de muita confiabilidade. É o quarto país com reserva internacional do mundo. Uma reserva que começou com nosso governo em 2015", afirmou.
O petista também voltou a falar em especulação por parte do mercado financeiro diante do atual patamar da Selic, a taxa básica de juros, que está em 10,5% ao ano.
"Esse nervosismo especulativo que está acontecendo não vai mexer com a seriedade da economia brasileira. Os nossos bancos públicos estão emprestando muito dinheiro. Os bancos [privados] não querem emprestar dinheiro, querem especular. Querem ganhar com a taxa de juro", disse.
As críticas a Campos Neto se intensificaram no começo desta semana. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o presidente tem mobilizado e orientado auxiliares e aliados a subirem o tom contra o economista.
A tensão começou depois que Lula afirmou, em entrevista à rádio CBN na terça-feira (18), que o chefe da autoridade monetária tem lado político e que trabalha para prejudicar o país.
"Não pode continuar com taxa de juros proibitiva de investimento no setor produtivo. (...) Que o Banco Central se comporte na perspectiva de ajudar esse país, não atrapalhar o crescimento", afirmou o presidente na ocasião.
O chefe do Executivo não foi o único a colocar o presidente do BC na mira. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, comentou em evento promovido pela CNN Brasil que a Selic, em nível restritivo, inibe a captação de recursos da poupança e a concessão de crédito.
A artilharia contra o BC também foi reforçada no Congresso ao longo da semana. Líder do governo no Senado, o senador Jaques Wagner (PT-BA) fez coro com Lula e criticou a ida do presidente do BC a um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na semana passada.
Como mostrou o Painel S.A., Campos Neto sinalizou aceitar ser ministro da Fazenda caso Tarcísio entre na disputa pelo Palácio do Planalto.
A ofensiva do governo ganhou força depois que se consolidou a visão do mercado financeiro de que haverá uma pausa no ciclo de redução da taxa básica. Percepção esta que se confirmou na quarta (19), quando o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central interrompeu o ciclo de cortes de juros e manteve a Selic em 10,5% ao ano.
No mesmo dia, a bancada do PT na Câmara dos Deputados entrou com uma ação popular na Justiça em que pede que Campos Neto seja proibido de fazer "pronunciamentos de natureza político-partidárias".
Já o presidente do BC, como mostrou a Folha de S.Paulo, está sendo aconselhado por importantes líderes políticos do centro a não cair na provocação de Lula e de bolsonaristas.