Política

Marielle: Investigação sobre o caso está longe de mandantes

Familiares da vereadora afirmam que Polícia Civil e o MP-RJ não serão capazes de apresentar os mandantes do atentado

Por Da Redação, Agências
Ás

Marielle: Investigação sobre o caso está longe de mandantes

Foto: Reprodução / UOL

Pessoas próximas ao caso Marielle ouvidas por UOL afirmam que a investigação entrou em uma espécie de "beco sem saída" e nada indica que a Polícia Civil e o MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) serão capazes de apresentar os mandantes do atentado que resultou nas mortes da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018.

O processo contra os acusados de serem os autores do atentado — o policial militar da reserva Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz — começou a entrar em sua etapa final. Nesta semana a Justiça do Rio decidiu que eles devem ir a júri popular.

"O juiz não seguraria essa bomba", afirmou um interlocutor próximo a Lessa, referindo-se ao fato de o magistrado não tomar a decisão sozinho, e sim com o auxílio de jurados. Henrique Telles, que defende Queiroz, adiantou que vai recorrer da sentença de júri popular. "Não foi provado nada contra meu cliente", afirmou. 

O advogado Fernando Santana, que representa Lessa, afirma que as provas apresentadas pelo MP-RJ não comprovam que seu cliente matou Marielle e Anderson. Segundo a defesa, o PM reformado estava no bairro da Barra da Tijuca no momento do crime, que foi cometido no Estácio, e cita testemunhas do fato. Procurada para comentar as investigações, a polícia se limitou a dizer que o caso corre sob sigilo.

"A investigação se afasta a cada dia dos mandantes" 

João Tancredo trabalha como assistente de acusação no processo movido pelo MP-RJ contra os acusados pelo assassinato de Marielle. O advogado representa Mônica Benício, viúva da então vereadora. Ele avalia o saldo da investigação como positivo.

 "Esse não é um crime de simples elucidação. A polícia e o MP chegaram aos executores, e eles vão a júri popular. Não é pouco." Tancredo afirma que a investigação da Polícia Civil que apontou Lessa e Queiroz como assassinos de Marielle é robusta. Segundo ele, foram reunidos muitos depoimentos, provas e laudos que apontam que os dois estavam no veículo que interceptou o carro de Marielle. 

Polícia e MP acreditam que Lessa agiu sozinho

À espera do julgamento da federalização do caso Marielle Franco, marcado para o próximo dia 31, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), os responsáveis pela investigação evitam comentar a tese, que ganha corpo entre eles, sobre a motivação do crime.

Sem abandonar outras linhas de apuração, policiais e promotores acreditam cada vez mais que o assassinato da vereadora do PSOL e do motorista Anderson Gomes, que completa dois anos hoje, foi obra de um "lobo solitário" — nesse caso, o ex-sargento da PM Ronnie Lessa. Preso desde março de 2019, o suspeito de executar o homicídio também seria o autor intelectual da ação, movida apenas por ódio.

Expressão surgida na esteira dos ataques terroristas do Estado Islâmico a países ocidentais, "lobo solitário" é o criminoso que prepara e executa ações violentas à margem de qualquer estrutura de comando, embora possa ser influenciado por ideologia ou crença extremista.

Uma das principais linhas de investigação sobre o planejamento do crime aponta esse perfil em Lessa. A suspeita é alimentada pela série de pesquisas que o ex-PM fez no Google, onde procurava informações sobre ativistas de esquerda focados na defesa dos direitos humanos, especialmente Marielle e o deputado federal Marcelo Freixo, também do PSOL.

Tese contestada

A quebra de sigilo dos dados obtidos na internet por Lessa e Élcio de Queiroz, que foi expulso da PM e é acusado de dirigir o carro usado no crime, ocorreu a pedido do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio. O juiz Gustavo Kalil, do 4º Tribunal de Júri, onde tramita o processo sobre o duplo homicídio, autorizou o acesso às informações dos suspeitos.

A investigação continua, mas agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e promotores do Gaeco terão de enfrentar, no STJ, as dúvidas sobre a capacidade de chegarem à autoria intelectual do assassinato de Marielle e Anderson.

No ano passado, ao ajuizar o pedido de federalização do caso, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, alegou que a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio não conseguiram descobrir a motivação do duplo homicídio. Ela destacou que um "eventual fracasso da persecução criminal do mandante importaria a responsabilização internacional do Estado brasileiro".

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