Mauro Cid: conversas expõem esquema de fraude dos cartões de vacina
Diálogo mostra ainda que Ailton Barros afima saber quem mandou matar Marielle
Foto: Reprodução/Facebook e Alan Santos/PR
Após a quebra de registro telefônico, a operação da Polícia Federal mostra a cronologia das fraudes em cartões de vacinação feitas para a família do tenente-coronel Mauro Cid e para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De início, Mauro Cid tenta obter um cartão de vacinação com o sargento Luís Marcos dos Reis para sua mulher, Gabriela, em 22 de novembro de 2021.
“Joga na minha conta. E vê aí em Goianésia se tem algum cara que não seja cadastrado no Conecte SUS. Vou ver depois no Exército se tem algum enfermeiro..."
Após não conseguir, ele aciona o segundo-sargento do Exército Eduardo Crespo.
“Chefe, 90% já confirmado, tá? Só deu um probleminha lá com o negócio do CPF, mas a pessoa teve que sair. E amanhã eu já resolvo, já dou pronto para o senhor, tá OK?" Eduardo Crespo responde a Mauro Cid, em 23 de novembro de 2021.
Mais uma vez, o esquema não é concluído por conta dos dados de vacinas enviadas para Goiás, então é transferido para Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Cid então tenta com o ex-major Ailton Gonçalves Moraes Barros.
“Porque realmente o negócio é pi*a e ninguém pode ficar exposto, não é, particularmente, particularmente, quem você sabe, né? Não pode ficar. Mais tá caminhando bem." Ailton Gonçalves Moraes Barros, em 30 de novembro de 2021, detalha para Mauro Cid a dificuldade do pedido sobre as vacinas
Ailton Gonçalves Moraes Barros, em 30 de novembro de 2021, avisa a Mauro Cid que pediu ajuda para o vereador Marcello Siciliano. “Mas é bom que já vai botar pressão para resolver o meu problema. Eu resolvo o dele, ele resolve o meu."
Ele pede ainda uma reunião com um membro da embaixada dos EUA para resolver um problema no passaporte do parlamentar.
“Cid, a situação é resolver, na realidade, se tivesse resolvido antes, ele já mete o pé pra lá, que vai levar a filha lá, que quer passar o Natal, entendeu? Vai com a família toda para lá." Ailton Gonçalves Moraes Barros, em 30 de novembro de 2021, avisa a Mauro Cid que conseguiu inserir os dados de vacinação para Gabriela.
Ainda no dia 30 de novembro, Ailton Barros afirma que sabe quem mandou matar a vereadora Marielle Franco em 2018.
“Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí”.
E confirmou o favor feito a Marcelo Siciliano. “E Cid, em relação ao pedido dele, que é aquela situação lá do do passaporte, né? Porra irmão, ele já está felizão; só porque o negócio está andando, não estava andando, tudo parado porra. Agora tu já botou para andar. Então já tá felizão já!”
As conversas foram expostas após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou a apreensão de celulares e a prisão dos envolvidos no esquema.
Na decisão, ele afirmou ser "plausível, lógica e robusta" a linha de investigação sobre o possível envolvimento do ex-presidente no esquema de fraude.
Além de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foram presas outras cinco pessoas: o PM Max Guilherme Machado de Moura, o secretário municipal de Saúde de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha, o assessor do ex-presidente Sérgio Rocha Cordeiro, o segundo-sargento Luís Marcos dos Reis e o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros.