O que se sabe sobre o cemitério de escravizados descoberto em Salvador (BA)

Local pode abrigar mais de 100 mil corpos e se tornar o maior cemitério de africanos escravizados da América Latina

Por Da Redação
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O que se sabe sobre o cemitério de escravizados descoberto em Salvador (BA)

Foto: Foto/Divulgação

Uma das maiores descobertas arqueológicas recentes no Brasil pode estar emergindo no subsolo de Salvador. O Ministério Público da Bahia (MPBA) pediu a preservação de um local onde foram encontradas ossadas humanas que podem pertencer ao que seria o maior cemitério de escravizados da América Latina.

As ossadas foram localizadas durante escavações realizadas no estacionamento da Pupileira, uma área pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia, localizada no bairro de Nazaré, região central da capital baiana. Os trabalhos arqueológicos identificaram fragmentos de ossos e dentes humanos a 2,7 metros de profundidade, em escavações de pequeno porte (1x3 metros e 2x1 metros).

Os materiais encontrados — com características como ossos largos e dentes — indicam a presença de corpos de origem africana, segundo os pesquisadores. Devido à fragilidade dos restos, as ossadas não foram removidas e o local foi imediatamente coberto para sua proteção.

O processo de preservação

Em coletiva de imprensa, o MPBA anunciou o pedido formal para que a Santa Casa interrompa qualquer uso da área escavada. O objetivo é garantir a preservação do sítio arqueológico, que já está em processo de reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sob o nome “Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos”.

Pesquisadores acreditam que o local faça parte do antigo Cemitério do Campo da Pólvora, que teria funcionado entre o final do século XVII e meados do século XIX. Estima-se que o espaço possa abrigar mais de 100 mil corpos, principalmente de pessoas escravizadas, mas também de indivíduos marginalizados na época, como indigentes, não-batizados e criminosos.

A área foi, ao longo dos anos, coberta por aterros e urbanizada, apagando qualquer vestígio visível de sua função original. A descoberta, no entanto, é considerada uma das mais significativas do ponto de vista arqueológico e social, por expor uma parte da história brasileira que foi silenciada por séculos.

Segundo informações divulgadas pela CNN na terça-feira (27), uma audiência pública será realizada para discutir os próximos passos da escavação.

Os primeiros indícios:

Na sexta-feira (16), os primeiros indícios de pessoas enterradas no cemitério de escravizados localizado no estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, em Salvador. Os arqueólogos que trabalham na escavação localizaram pequenos fragmentos de objetos e porcelanas, que datam, provavelmente, do século XIX. A informação é do G1. 

Foto/Divulgação

A arqueóloga e coordenadora do projeto "Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora", Jeanne Dias, revelou que, após o período de chuvas, que dificultou o trabalho da ação, a equipe agora trabalha para alcançar as camadas arqueológicas do solo.

"Nosso objetivo é localizar vestígios remanescentes ósseos dos antigos escravizados e de outras pessoas que foram enterradas nessa antiga área da cidade, no antigo cemitério do Campo da Pólvora", explica.

As buscas começaram no dia 14 de maio, quando a Revolta dos Malês, maior levante de escravizados na Bahia, completou 190 anos.

A localização do cemitério foi descoberta através da pesquisa de doutorado da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na pesquisa, Silvana defende que há a possibilidade de que pessoas que participaram da revolta dos Malês, dos Búzios e da Revolução Pernambucana estejam enterradas no local.

 

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