Operação Overclean: saiba quem são os presos e como cada um participou de esquema de desvios milionários em contratos públicos na Bahia
Polícia Federal cumpriu 15 mandados de prisão em cinco estados, 13 foram presos na Bahia
Foto: Policia Federal
Dois vereadores eleitos, servidores públicos e empresários compõem os alvos da Operação Overclean, realizada pela Polícia Federal (PF) na terça-feira (10), contra uma organização criminosa suspeita de fraudes licitatórias, desvios de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro.
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A operação foi realizada em cinco estados: Bahia, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, com o objetivo de cumprir 17 mandados de prisão, 42 mandados de busca e apreensão, além de ordens de sequestro de bens. Entre os 17 alvos, 15 foram presos e dois seguem foragidos. 13 prisões foram realizadas na Bahia.
Conforme a Receita Federal, o esquema foi estruturado para direcionar recursos públicos vindos de emendas parlamentares, convênios para empresas, e pessoas ligadas a administrações municipais, através de contratos superfaturados firmados com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O grupo teria movimentado aproximadamente R$ 1,4 bilhão.
Confira abaixo quem são os suspeitos presos na Bahia, segundo a PF:
• Alex Rezende Parente
Apontado pela PF como líder da organização criminosa, Alex Rezende Parente é suspeito de fraudar licitações com o setor público, sendo o responsável por coordenar a execução das fraudes em licitações, negociar diretamente com servidores públicos e organizar o pagamento de propinas.
O empresário é sócio-proprietário das empresas Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda., Larclean Ambiental, Rezende Serviços Administrativos Ltda., FAP Participações Ltda., e Qualymulti Serviços EIRELI - ME.
• Fábio Rezende Parente
Irmão de Alex Rezende, Fábio Rezende Parente é descrito como integrante do núcleo central do esquema, e atuava como executor financeiro da organização criminosa, sendo o responsável por realizar as transferências bancárias e os pagamentos de propinas.
Ele é suspeito de utilizar contas bancárias em nomes de terceiros, como a da empresa fantasma Bra Teles Ltda. Fábio é também sócio-proprietário de empresas como Larclean, Allpha Pavimentações, FAP Participações LTDA., e Rezende Serviços Administrativos LTDA.
• Lucas Maciel Lobão Vieira
Ex-coordenador estadual do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas na Bahia (DNOCS), Lucas Maciel Lobão Vieira é apontado como suspeito de financiar atividades ilícitas da organização criminosa, definir diretrizes operacionais e exercer controle sobre os membros.
Ele foi destituído do cargo no DNOCS em 2021, após um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontar um sobrepreço estimado em R$ 192.309.097,16 na compra de 470 mil reservatórios de água de polietileno.
Assim como Fábio Rezende, Lucas Maciel integrava o núcleo central da organização criminosa. Ainda segundo a PF, Lucas também é gerenciador dos contratos firmados pela Allpha Pavimentações com o setor público e, enquanto trabalhava no DNOCS, seguia atuando nos bastidores em favor da empresa.
• José Marcos Moura
José Marcos Moura, conhecido como "Rei do Lixo", é um empresário do setor de limpeza urbana. Ele possui contratos com diversos municípios brasileiros, inclusive Salvador, por meio das empresas que lidera.
A PF aponta que José Marcos tinha papel de liderança no esquema, junto com Alex Parente. Ele é suspeito de atuar na especulação de contratos, com a contratação de servidores mediante o pagamento de propina.
Devido a ampla rede de contatos, José Marcos facilitava o andamento de contratos e o desbloqueio de pagamentos, principalmente pela grande influência com os agentes públicos, dentre eles o secretário de Educação de Salvador, Flávio Henrique de Lacerda Pimenta.
• Flávio Henrique de Lacerda Pimenta
Flávio Henrique de Lacerda Pimenta, até então diretor geral da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Salvador, é suspeito de favorecer Alex Parente em uma licitação.
Na casa dele, a polícia apreendeu R$ 700 mil em espécie. Devido a operação, a Prefeitura de Salvador demitiu o servidor. A exoneração foi publicada no Diário Oficial do Município.
Sobre o assunto, a prefeitura disse que não é investigada na operação e, portanto, não vai se manifestar.
• Francisco Manoel do Nascimento Neto
Vereador eleito para o mandato 2025-2028 em Campo Formoso, pelo partido União Brasil, primo do deputado Elmar Nascimento (União-BA), Francisco Manoel do Nascimento Neto já atuou como secretário-executivo da prefeitura de Campo Formoso.
Antes de ser preso, Francisco tentou se livrar de dinheiro em espécie que mantinha em casa, jogando a sacola pela janela.
• Clebson Cruz de Oliveira
Suspeito de fornecer apoio logístico à organização criminosa na capital baiana, executava tarefas manuais como o saque de grandes quantias para pagamento de propina e a entrega desses valores em nome dos empresários.
• Kaliane Lomanto Bastos
Coordenadora de Projetos, Execução e Controle na Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de Jequié, no sudoeste da Bahia. Ela é suspeita de receber R$ 48,7 mil de propina para liberar pagamentos retidos em contratos públicos firmados entre a empresa Allpha e a prefeitura.
• Orlando Santos Ribeiro
Secretário de Governo de Itapetinga, também no sudoeste do estado. É suspeito de receber propina em troca de ações que favoreciam empresas do grupo nos contratos.
• Diego Queiroz Rodrigues
Foi vereador do município de Itapetinga entre os anos de 2017 e 2020 e voltou a se eleger para o cargo neste ano. É suspeito de receber "pagamentos espúrios" feitos com frequência por Alex Parente.
• Geraldo Guedes de Santana Filho
Sócio da A G&M, Geraldo Guedes é suspeito de atuar como funcionário de Alex Parente, "executando funções de contabilidade, secretariado, além de tratativas diretas com agentes do setor público envolvidos nos contratos firmados com a Larclean".
• Evandro Baldino do Nascimento
Empresário do ramo de construção, é suspeito de colaborar com o sustento logístico e operacional da organização criminosa em fraudes licitatórias nas cidades de Oliveira dos Brejinhos e Campo Formoso.
• Fábio Netto
Procurador da empresa Villetech, é suspeito de integrar a organização criminosa em Senador Canedo, cidade de Goiás.
O que dizem os investigados
A defesa de Alex Rezende Parente, Fábio Rezende Parente e Lucas Maciel Lobão Vieira informou que só vai se manifestar em juízo.
"Pretende se manifestar sobre o mérito da acusação perante as autoridades competentes, no tempo e local adequados", diz a nota.
A Prefeitura de Campo Formoso informou que não irá se manifestar, pois não teria sido citada nos autos do processo, mas ressaltou que está à disposição para eventuais esclarecimentos.
Já a gestão de Jequié disse que não foi formalmente notificada sobre a decisão, no entanto exonerou a servidora Kaliane Lomanto Bastos para que ela tenha plena oportunidade de apresentar sua defesa. A prefeitura informou ainda que instaurou uma sindicância para apurar responsabilidades e possíveis danos ao erário.
Foragidos e presos em outros estados
Além dos detidos na Bahia, outros dois integrantes foram presos em outros estados:
• Claudinei Aparecido Quaresemin, secretário de parcerias público-privadas do Tocantins, suspeito de receber pagamentos de Alex Parente para favorecer a Larclean em contratos licitatórios.
• Iuri dos Santos Bezerra, suspeito de participar das atividades ilícitas do grupo, conforme destacado pelo Ministério Público Federal, teria dialogado com Geraldo Guedes sobre destruição de provas, a mando de Alex Parente.
Já Itallo Moreira de Almeida e Ailton Figueiredo Souza Junior foram alvos de mandados de prisão, mas estão foragidos. Itallo é servidor da Secretaria de Educação do Tocantins, suspeito de favorecer empresas nas licitações, e Ailton teria atuação em Salvador, com "amplo e irrestrito acesso aos mais diversos setores da Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas", conforme a PF.