Diagnóstico de câncer de mama e colo de útero caem durante a pandemia
Especialista fala sobre a importância de comparecer às consultas ginecológicas periódicas
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Devido às inseguranças causadas pela pandemia, muitas mulheres estão deixando de comparecer às consultas ginecológicas periódicas. Essa realidade é preocupante, principalmente porque dentre as doenças cuja prevenção e tratamento foram afetados pela pandemia estão os cânceres de mama e colo de útero.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) observou, com base nos dados do Ministério da Saúde, que houve uma redução de 23,4% na realização de mamografias e biópsias de colo uterino, exames fundamentais para a detecção precoce das doenças.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 82.870 mulheres desenvolveram essas neoplasias no último ano. Delas, 24860 desconhecem a presença da doença.
Para o cirurgião oncológico, Dr. André Bouzas, a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, trouxe mudanças no cenário da saúde, como a superlotação dos hospitais, e despertou o receio em sair de casa.
Diante dessa realidade, ele afirma que é “extremamente necessário" o comparecimento às consultas de rotina porque o rastreamento é uma estratégia importante para a identificação de tumores em fases iniciais, permitindo o uso de tratamentos menos invasivos e com melhores chances de cura.
A funcionária pública aposentada, Maria Brito, de 67 anos, por exemplo, teve a chance de descobrir a doença na fase inicial. “Meu diagnóstico veio em junho de 2018. Eu não tinha sintoma algum, mesmo assim fui surpreendida com um carcinoma de células claras do ovário estádio I. Minha médica conduziu muito bem, foi ágil e me encaminhou para o cirurgião oncológico. Fiz duas cirurgias e algumas sessões de quimioterapia. Tudo com muito cuidado e atenção. A recuperação foi muito tranquila. Hoje tenho uma vida normal, estou na fase de controle da doença, fazendo exames a cada 6 meses. Tive muita sorte e fui abençoada, pois Deus colocou anjos na minha vida”, relatou.
Contudo, essa não é a realidade de muitas brasileiras. A Febrasgo aponta ainda que o cancelamento e o reagendamento de consultas ginecológicas, devido à pandemia, fizeram com que o diagnóstico de câncer de mama e de colo de útero tivesse uma redução. “As neoplasias ginecológicas são muito frequentes no nosso meio, algumas preveníveis mesmo antes de virar um câncer. As alterações patológicas do colo uterino devido ao HPV, por exemplo, podem ser prevenidas com a realização anual do exame preventivo conhecido como Papanicolau”, explica o Dr. Bouzas, que também é diretor do núcleo de cirurgia oncológica do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR).
De acordo com o especialista, “a incidência do câncer de mama tende a crescer progressivamente a partir dos 40 anos, assim como a mortalidade por essa neoplasia. O risco de morte decorrente da doença em meio às mulheres de 60 anos é dez vezes maior se comparado àquelas com menos de 40 anos de idade”, disse.
“Outros tumores como o câncer de endométrio são mais comuns em idosas e costumam dar sintomas bem precocemente e são fáceis de identificar, pois aquela mulher já na menopausa volta a apresentar sangramento. Além disso, o exame de ultrassom transvaginal também pode detectar tumores no útero e ovário. O receio de sair de casa para uma avaliação médica pode retardar o diagnóstico e gerar graves consequências”, completa o cirurgião.
Ainda de acordo com o médico, as pacientes curadas também precisam manter com regularidade as consultas com o oncologista para avaliar sinais que podem identificar o retorno da doença.