Significados atribuídos a palavra "pardo" dificultam a identificação racial no Brasil
Termo foi adicionado como categoria oficial no Censo a partir de 1950 e é alvo de debates raciais desde então
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
O número de brasileiros que se identificam como pardos chegou a 45,3% da população, de acordo com os dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado trouxe à categoria o posto de maior grupo racial do Brasil pela primeira vez na história.
No último levantamento, o termo foi definido como: quem se identifica com mistura de duas ou mais opções de cor, ou raça, incluindo branca, preta e indígena.
Apesar disso, o significado da palavra nem sempre foi esse. Desde a fundação do IBGE, em 1936, o conceito mudou de sentido diversas vezes, e houve até anos que não havia explicação exata sobre quem a categoria deveria representar.
No primeiro levantamento realizado pelo IBGE, em meados de 1940, a maioria da população se identificou como branca:
- Branco — 63,46% da população;
- Preto — 14,63%;
- Amarelo — 0,58%;
- Pardo — 21,20%
- De cor não declarada - 0,10%
"[Naquele ano], pardo era uma categoria residual", disse Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais. Ou seja, quem respondesse qualquer categoria que não preta, branca e amarela, era classificada como parda.
Em 1950, o termo "pardo" foi incorporado como categoria oficial. Mas, naquele ano, não houve uma definição do que significava a categoria. Os recenseadores, nome dado às pessoas que fazem as perguntas do Censo à população, apenas explicavam o que era amarelo.
Nos anos 1970, durante a ditadura militar, as questões raciais não entraram no levantamento do IBGE. "A avaliação (do governo) era de que a distinção não se fazia necessária", disse Marta.
Na época, porém, surgiu uma nova pergunta na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que visava ajudar o IBGE, no mapeamento racial, já que o instituto não fez perguntas sobre o assunto.
Entre os Censos de 1980 e 1990, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística decidiu alterar o método de pesquisa de cor e raça. Antes, o levantamento era feito via questionário base, e passou a ser por amostra.
Já em 2010 e 2022, o questionário base volta a ser o método de pesquisa do IBGE, e os dados, nas palavras de Marta, voltaram a ser mais exatos. O levantamento mais recentes aponta que:
- Os pardos são 92,1 milhões, 45,3% da população. Em 2010 eram 43,1%;
- Os brancos são 88,2 milhões, ou 43,5%. Em 2010, eram o maior grupo, com 47,7%;
- Os pretos cresceram 42,3% na última década, e passaram a ser 20,7 milhões, ou 10,2% da população, ante 7,6% em 2010;
- Os indígenas agora são 1,7 milhão, ou 0,8%, ante 0,5% em 2010.