“Sou otimista”, diz novo Embaixador argentino no Brasil sobre relação entre Fernández e Bolsonaro

O peronista Daniel Scioli, um dos primeiros embaixadores nomeados pelo presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández nesta quinta-feira (5), vai comandar a sede diplomática em Brasília. E segundo ele pontuou em entrevista ao Jornal O Globo, terá a missão de “aproximar posições”.

Scioli, que já foi governador da província de Buenos Aires, vice-presidente de Néstor Kirchner (2003-2007) e candidato à Presidência do kirchnerismo em 2015, esteve numa reunião entre Fernández e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em Buenos Aires. 

Segundo o novo embaixador argentino no Brasil, no encontro, o presidente eleito e Maia coincidiram na necessidade de “deixar os desencontros [com o presidente Jair Bolsonaro] para trás”. “Fernández conhece minha forma de trabalhar, sempre busco acordos, descomprimir situações de conflito”, assegurou Scioli, que semana que vem fará uma primeira viagem a Brasília.

O embaixador garantiu que terá um grande trabalho pela frente.  “Por isso pensaram em mim e em minha capacidade de aproximar posições. Vejo esse espírito nas últimas declarações de Bolsonaro e de Alberto Fernández. Querem uma relação pragmática e buscar pontos de encontro”, disse.

Sobre o fato de Bolsonaro não ter ido à posse de Fernández, Scioli ponderou que “não foi, mas mandou um ministro importante [Osmar Terra, da Cidadania] e o fato de que hoje [nesta quinta] tenha estado aqui o presidente da Câmara, que tinha informado o presidente que vinha, mostra vocação de deixar atrás etapas de desencontros. Essa é minha visão, sou otimista. Podem existir diferentes visões, mas temos que buscar as coincidências pelo bem de nossos países. Agora que o Brasil está se recuperando, tenho certeza de que nosso presidente fará todo o esforço para recuperar a Argentina”, afirmou.

O embaixador falou também sobre o apoio público de Fernández ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com ele, “Fernández foi ao Uruguai apoiar o candidato da Frente Ampla e já está se articulando com Luis Lacalle Pou. Ele quer desestressar esse vínculo [com o Brasil], que pelas razões que você menciona pode ter tido momentos de tensão. Mas existe uma clara vocação de superar”, frisou.

Sobre um possível encontro entre Bolsonaro e Fernández, Scioli disse que “terão uma oportunidade, certamente. Vou trabalhar para aproximar posições, ter contatos, respeitando a institucionalidade brasileira. Nesse marco se dará um encontro”. 

Questionado sobre as medidas defendidas por Fernández, sobre o Mercosul, como rever a Tarifa Externa Comum (TEC) e aplicar o já fechado acordo de livre comércio com a União Europeia (UE),  o embaixador respondeu que “será um trabalho da Chancelaria, do Ministério da Produção, dependerá das decisões que finalmente tome o presidente. Para isso teremos de trabalhar e ver as diferentes alternativas sempre pensando na necessidade de recuperação da Argentina”, disse.

O novo embaixador fará, a partir da semana que vem, visitas à Brasília. Passará um tempo até que assuma o cargo oficialmente. 

Sobre o encontro com Rodrigo Maia, Scioli classificou como “muito bom”. “Ele disse [Maia] que diria a Bolsonaro as definições dadas por Alberto e coincidimos em deixar atrás os desencontros. Também em focar nas coincidências. Foi um gesto muito valorizado por todos nós”, concluiu.