Salvador

Transporte público em Salvador: caro e cheio de desafios

Gestões de Neto e Bruno Reis não conseguem resolver e nem melhorar

Por Da Redação
Ás

Atualizado
Transporte público em Salvador: caro e cheio de desafios

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Quem utiliza o transporte público de Salvador já deve ter percebido que as linhas de ônibus foram modificadas ou substituídas em alguns pontos da cidade. As alterações acompanharam as entregas dos trechos do BRT, cuja primeira operação foi iniciada entre o Shopping da Bahia e a praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba. O segundo trecho foi entregue na última semana e liga a região da Cidade Jardim até a Estação da Lapa. 

Contudo, as inaugurações não agradam parte da população, que atribuem a demora dos ônibus, redução da frota e a necessidade de fazer integrações ao novo modal. Recentemente, o "Diz Aí Povo", novo quadro do Farol da Bahia, foi às ruas saber a opinião dos usuários sobre o sistema de transporte coletivo público da capital baiana, além da qualidade dos serviços oferecidos.

"Além de estar nos fazendo pegar mais conduções, descer mais vezes de ônibus, hoje a gente não sabe mais qual ônibus que para em determinado ponto, se está passando ou se não está, quantos deles vão até o nosso destino. Seria melhor se a prefeitura nos informasse sobre isso e que facilitasse a gente chegar no local com menos quantidade de transporte. Eu me sinto perdida e desorientada em Salvador. Se o BRT veio para beneficiar, eu ainda não estou sentindo isso", disse uma usuária à reportagem. 

"Acho que teria que ter mais opções de ônibus normais para a gente ficar menos tempo esperando, do que ficar esse desgaste com obras, pagando à empreiteira para ficar montando e desmontando a cidade. É desgastante e todo esse recurso deveria estar sendo utilizado na educação e nos hospitais públicos do que na mobilidade", acrescentou. 

Confira o vídeo completo 

Diante das inúmeras reclamações, o Ministério Público Federal (MPF) vai investigar as mudanças nos itinerários em decorrência da implantação do BRT em Salvador. O texto publicado na portaria informa que o inquérito vai apurar as "insatisfações dos usuários". Apesar dos relatos negativos, o secretário municipal de Mobilidade Urbana (Semob) afirmou em entrevista ao Farol da Bahia que as críticas em relação ao BRT fazem parte de uma cultura do julgamento e que a prefeitura pensa nas mudanças visando o crescimento da cidade. 

"Todas as mudanças que ele [Bruno Reis] faz é para gerar mais eficiência, reduzir o tempo de viagem e reduzir o tempo de espera. Muitas das pessoas reclamam e nós somos muito sensíveis, ouvimos todas as reclamações, mas muitas das vezes é cultural porque as pessoas já estão acostumadas a fazer aquele julgamento e esse é um processo de aculturamento e que leva tempo porque não se muda uma cultura da noite para o dia", disse.

Segundo a Secretaria de Mobilidade, o BRT Salvador transporta mais de 1 milhão de passageiros mensalmente e, devido à chegada de novos modais - BRT e metrô -, o sistema de transporte precisou passar por mudanças. "Entre os quais a criação de novos atendimentos para otimizar a circulação dos coletivos na cidade. Tais mudanças contribuem para reduzir o tempo de deslocamento dos usuários, uma vez que os ônibus circulam entre origem e fim com tempo menor", informou à reportagem. O secretário não informou se a prefeitura checou se a população se sentiu segura e satisfeita com as mudanças feitas no transporte.

Questionado sobre o número de coletivos convencionais e com ar condicionado, a Semob detalhou que a cidade conta com mais de 1900 ônibus em operação, sendo 597 com ar condicionado. "A atual gestão entregou 497 novos ônibus (BRT e frota convencional). Novos coletivos serão entregues até o final de 2024", destacou.

Em 2019, o então prefeito ACM Neto anunciou que a frota de Salvador passaria a contar com o acréscimo de mil novos veículos com ar condicionado até o ano de 2022. Segundo a proposta de renovação, que foi aceita pelos empresários do setor de transportes, os ônibus deveriam ser integrados da seguinte forma: 125 até 20 de julho e 125 até 20 de setembro. Em 2020, 2021 e 2022, a renovação deveria ocorrer até 30 de junho (totalizando 250 veículos por ano).

Ou seja, o compromisso assumido pelo ex-prefeito não foi cumprido e a população conta com a operação de pouco mais da metade de ônibus com ar condicionado prometidos por ACM Neto. 

Qualidade dos veículos

O último reajuste da passagem de ônibus de Salvador foi feito em novembro de 2023, quando passou de R$ 4,90 para R$ 5,20, um aumento de 6,12%, tornando a tarifa a mais cara entre as capitais da região Nordeste. O valor é considerado altíssimo diante do poder econômico restrito da população soteropolitana  e acabou sendo comparado com a qualidade dos veículos, que também foi outra crítica apontada pelos passageiros ouvidos pelo Farol da Bahia.

"Os ônibus não têm qualidade. Os que eu pego, particularmente, são todos sujos, com baratas, enferrujados. Dificilmente eu pego um bonzinho", expressou outra usuária do coletivo público. 

A reportagem também ouviu um rodoviário, cuja identidade será preservada, sobre a qualidade dos veículos que trabalha. Segundo o cobrador, os ônibus são sucateados, com bancos e janelas soltas, e nenhuma melhoria é feita, ainda que sejam feitas sinalizações às empresas responsáveis.  

"Temos muitos ônibus sucateados, com banco solto, é uma batedeira que só. Muita zoada. Quando a gente fala, nada é resolvido, sempre dizem que está sem peças e material ou que não tem dinheiro para comprar. A prefeitura diz que os ônibus são novos, mas nem todos são novos, apenas alguns. Se você vier na Suburbana, são todos sucateados. Tem banco que é escorado com pedra na parte debaixo. Se você falar muito com eles, você já fica visado lá dentro. Dizem que você está falando muito ou pedindo muito, aí você tem que ficar calado", disse. 

Sobre a conservação dos ônibus, a Semob informou que mantém ações de fiscalização nas garagens das empresas. "[...] com o objetivo de garantir um bom funcionamento dos veículos, tanto em estrutura, como limpeza, fatores que devem ser mantidos pelos concessionários. Em caso de descumprimento, a empresa é autuada e o veículo é retirado de operação para as devidas providências".

Porém, em todos os relatos, tanto dos passageiros, quanto dos funcionários, o que se ouve é que não existe fiscalização e que a qualidade de ônibus é a pior possível. 

Deficiência do Sistema

Técnicos ouvidos pelo Farol da Bahia entendem que há um vicio originário do Sistema de Transporte implantado pela gestão ACM Neto que prévia um crescimento da demanda que não aconteceu agravada pelo aumento dos custos da Operação e pela cobrança de uma Outorga Onerosa captada do usuário pelos empresários e paga por estes a prefeitura. Estas condições acabaram fazendo com que uma das empresas operadoras do transporte, a CSN, " quebrasse", piorando ainda mais a prestação do serviço ao usuário e expondo as outras empresas a risco idêntico.

A prefeitura não tem se mostrado apta a solução destas questões tendo se passado sete anos. Estes fatos, fazem com que a remuneração do serviço seja paga integralmente pelo usuário e que o município contribua discretamente, fato ocorrido somente depois da pandemia. O discurso da prefeitura é que a solução do transporte municipal está nas mãos do governo federal, tentando tirar de si a responsabilidade pelo caos instaurado no transporte.

Enquanto a possível ajuda do governo federal não chega, usuários sofrem com a péssima prestação do serviço de ônibus, funcionários se queixam de excesso de trabalho mal remunerado, as concessionárias se sentem ameaçadas de acabar como a CSN e a prefeitura segue administrando críticas sem adotar uma solução concreta.

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